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5/10/2020
Por: Professor Pina

Sobre a arte e a beleza

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Com base no capítulo 14 do livro didático “Reflexões: Filosofia e cotidiano” de José Antônio Vasconcelos

Apesar de tradicionalmente se afirmar que a beleza está ligada à arte, o filósofo Curt John Ducasse (1881-1969) disse que essa ligação nem sempre acontece. Para ele, é possível que um artista crie deliberadamente uma arte feia, que incomoda, que não venda. Nesse sentido, a beleza serve como uma condição social para a apreciação de uma obra, mas não é condição para a sua existência.

A Estética

A estética é uma área de especulação filosófica que trata da questão da beleza, incorporando também reflexões sobre os fundamentos da arte. A palavra estética vem do termo grego aisthetikós, que, em geral, se traduz por “aquele que tem a faculdade de sentir, de perceber.” Essa faculdade envolve o intelecto, mas não é um conhecimento sobre a verdade ou científico, mas com o conhecimento empírico envolvendo os sentidos e a sensibilidade.

Como ramo da Filosofia, a estética estuda a arte e o belo. No entanto, a estética como disciplina filosófica só se consolidou a partir do século XVIII, com o filósofo Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), rompendo com as concepções até então aceitas tanto sobre a arte quanto sobre a beleza.  Ela rompe com a ideia de uma arte utilitarista voltada para fins ornamentais, religiosos ou de elevação moral. Rompe também com a ideia platônica da concepção mimética da arte, sendo ela apenas representação. A arte vai além do utilitarismo e da representação do real, ela possui valores artísticos fruto da expressão de sentimentos do artista, de sua criatividade e da sua genialidade, tendo, portanto um valor em si mesma.

Desde então, o movimento artístico se tornou cada vez mais dinâmico: do Realismo para o Impressionismo; da arte como obra do artista, fruto de sua criatividade e genialidade para a arte na era industrial, onde a arte também se transforma em mercadoria. As concepções sobre arte serão questionadas por filósofos como Walter Benjamim (1892-1940) ao afirmar que na era industrial a obra de arte perdeu sua aura original, ou seja, por ser reproduzida ela perde sua unicidade; e o italiano Dino Fomaggio (1914-2008), que diante do vasto lastro sobre as possibilidades do que seria uma obra de arte, afirmou que arte é tudo o que os homens chamam de arte.

Conceitos de beleza

A beleza pode ser definida de forma objetiva ou subjetiva, dependendo do filósofo ou da escola filosófica que a define. Objetividade ou subjetividade está na perspectiva do sujeito em relação a realidade percebida, no nosso caso, em relação à percepção da beleza, seja em algo qualquer, seja em uma obra de arte. A beleza é objetiva quando se diz que o objeto é belo em si mesmo. A beleza ´é subjetiva quando se diz que algo é belo porque o sujeito assim o percebe. Por exemplo, quando nos deparamos com uma flor e afirmamos que ela é bela. Se ela é bela porque eu acho que ela é bela, então essa é uma percepção subjetivista, mas se eu acredito que a flor é bela porque de fato na realidade ela é bela, então essa afirmação é objetivista.

Platão, filósofo da Grécia Antiga, é um exemplo de filósofo que tem a beleza como objetiva. A beleza, para ele, é uma forma primordial, e as coisas são belas na medida em que participam da ideia de beleza. Então, para Platão, algo é belo porque tem em si a beleza. A beleza se identifica com a verdade e com o bem, que também são formas primordiais.

A diversidade de opiniões sobre se algo é belo ou não não se daria pelo fato de a beleza ser subjetiva, mas porque diferentes sujeitos têm graus de inteligência também diferentes, o mesmo se aplica para a percepção da verdade e da bondade. 

Platão via os artistas com desconfiança e dizia que o que eles praticavam (a arte) era mimese, isto é, uma imitação da realidade. Nesse sentido, a arte é bela quando imita a beleza das coisas, mas coisas são belas quando imitam a forma primordial da beleza,. existente no mundo das ideias. A arte, portanto, seria uma imitação de segundo grau, uma cópia da cópia e, como tal, sempre inferior ao modelo. Platão também considerava os artistas inferiores aos filósofos, por se desviarem do propósito de apresentar um retrato verdadeiro da realidade.

A beleza é percebida de forma subjetiva principalmente a partir do pensamento moderno. O inglês David Hume (1711-1776) é um dos filósofos dessa vertente. Hume via na diversidade de opiniões justamente a comprovação de que a beleza não é objetiva e sim subjetiva. Para Hume, então, o gosto é pessoal e a apreciação estética é subjetiva. No entanto, essa visão de Hume deixa um grande problema: a distinção entre a arte genial de trabalhos corriqueiros ou não artísticos. Se a percepção artística depende do gosto de cada um, como perceber trabalhos grandiosos como os de Tarsila do Amaral, ou de Carlos Drummond de Andrade ou de um Leonardo Da Vinci?

Disso resulta uma grande questão: como definir uma obra como obra de arte? A palavra arte vem do latim ars, que significa “técnica ou habilidade”, correspondente ao termo grego techné. Essa ideia de arte como habilidade perdura até os dias atuais, porém a partir da modernidade, especificamente do Renascimento, a arte ganha um status próprio se separando do artesanato. A arte passa a ser mais erudita, aproximando o artista do filósofo e do cientista.

Apesar dessa ascensão da arte e do artista, a questão do gosto ainda persiste e uma contribuição valiosa para nos dar uma clareza sobre os gostos estéticos é dada pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804). Para ele, o juízo estético ou de gosto, apesar de se basear em sentimento subjetivo de prazer, pode pretender universalidade, uma vez que não se trata de utilidade prática e nem de prazer sensual, mas prazer gratuito e desinteressado vinculado à imaginação e ao entendimento psíquico, faculdades cognitivas universalmente presentes em todos os seres humanos racionais, portanto, a priori, possibilitando uma percepção parecida entre todos os seres humanos. As ideias estéticas de Kant são conhecidas como formalismo, pois para o filósofo as características mais importantes de uma obra de arte são suas qualidades formais: linhas, contornos, formas. Pelas quais as pessoas fazem a experiência estética de forma desinteressada, gerando prazer corporal, o agradável; e prazer reflexivo, de contemplação, de julgamento, ou seja, a arte bela.

Arte e cultura

 

Existe uma ligação intrínseca entre arte e cultura. De fato, a arte faz parte da cultura na medida em que ela é fruto da criatividade, da genialidade e da criação do ser humano. A cultura também revela características de um povo, de um grupo social. A arte, inserida nesse contexto, é expressão desse povo, de sua forma de ser, de suas crenças. O artista, portanto, pertence a um grupo e sua obra é marcada pelas características singulares desse grupo. O estudo da arte, portanto, é o estudo de um povo, de um contexto, da história humana nas suas mais variadas situações, contextos e tradições.


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