3/6/2020
A falácia é um tipo de raciocínio incorreto, embora tenha a aparência de correção. Existem as falácias formais (de forma) e as não formais (de conteúdo e não de forma).
Uma das tarefas da lógica é denunciar as falhas no raciocínio, também chamadas de falácias ou sofismas. Um raciocínio pode ser incorreto por vários motivos: suas regras podem não estar sendo obedecidas de acordo com a lógica e seus princípios, o desconhecimento, as dificuldades na linguagem e outros elementos comunicativos podem provocar comunicações errôneas, ou intencionalmente o interlocutor quer enganar o receptor da mensagem.
A palavra falácia tem origem no termo em latim “fallacia”, aquilo que engana ou ilude. Desta forma, falácia será algo enganoso.
As falácias são construídas por raciocínios aparentemente corretos que levam à falsas conclusões. Este tipo de argumento está muito presente nos textos dissertativos, e também em palestras ou discursos.
Segue alguns exemplos de falácias:
Falácia do Espantalho
A falácia do espantalho consiste em deturpar um argumento e assim utilizá-lo para atacar o interlocutor.
Exemplo:
Maria: É preciso repensar a política de combate às drogas.
Pedro: Lá vem esse pessoal dizer que o melhor é liberar as drogas.
Maria afirma que é preciso repensar o modo com que se luta contra os entorpecentes. Pedro, porém, já interpreta o argumento como se ela tivesse dito que o melhor seria liberar qualquer tipo de substância ilícita.
Se uma pessoa desconhece a fala de Maria pensará que ela defende a liberação das drogas, algo que em nenhum momento foi dito por ela.
Falácia ad hominem
Esta falácia tem como intuito atacar a pessoa que enunciou o argumento. Por isso, é considerada ad hominen, expressão em latim que significa contra o homem.
Exemplo: X: Sou a favor do casamento gay.
Y: Só mesmo um ignorante como você poderia ser a favor disso.
Observe que Y não busca refutar o argumento em si, "casamento gay", mas parte para uma agressão contra X, chamando-o de ignorante.
Falácia do Escocês
Consiste em apresentar um argumento e seu contra-argumento. Desta forma, o argumento inicial se torna inválido.
Todo verdadeiro escocês gosta de uísque
Meu pai é escocês e não gosta de uísque.
Logo, seu pai não é um verdadeiro escocês.
A premissa para ser um "verdadeiro escocês" é gostar de uísque e quem não compartilha desta opinião estará naturalmente excluído de ser um "verdadeiro escocês".
Aqui temos um caso de premissas que podem levar à conclusões equivocadas de acordo com a lógica aristotélica.
Falácia da Derrapagem (ou Bola de Neve)
A partir de um fato, o interlocutor sempre o aumenta a fim de acabar com o argumento proposto.
Exemplo: Se legalizamos o consumo da maconha todos vão querer experimentá-la, em pouco tempo estarão viciados e a sociedade se transformará em um bando de zumbis drogados vagando pelas ruas.
Sem qualquer comprovação factual ou científica, exagera-se o fato da legalização da maconha estendendo seu consumo à toda sociedade.
Falácias da ambiguidade
São todos os casos em que uma palavra ou frase é usada sem clareza. Existem duas maneiras pelas quais isso pode ocorrer.
1. A palavra ou frase pode ser ambígua, caso em que se tem mais do que um significado distinto.
2. A palavra ou frase pode ser vaga, caso em que ele não tem significado distinto.
As seguintes são falácias de ambiguidade:
O mesmo termo é usado de duas maneiras diferentes.
Exemplo: Todo cidadão, precisa ser político. Os políticos são desprezíveis, pois são corruptos. (Significados diferentes para o termo político).
A estrutura de uma frase permite duas interpretações diferentes.
Exemplo: O pai falou com o filho caído no chão. (Quem estava caído no chão? Pai ou filho?)
A ênfase em uma palavra ou frase sugere um significado contrário ao que a sentença realente diz.
Exemplo: Fiado, só amanhã! (A frase em si não nega a venda fiada, porém na realidade sim, pois o amanhã nunca chegará, pois sempre estará expresso na frase).
Além dos exemplos de falácias acima há outros tipos que aparecem constantemente nos discursos políticos, líderes que apelam à demagogia, e conversas cotidianas.
Eis algumas delas:
Apelação à ignorância
Neste caso, queremos que se aceite uma conclusão por não se encontrar provas contrárias ao argumento.
Exemplos: Existem fantasmas na casa de Pedro.
Ninguém pode contestar esta afirmação porque não é possível provar, concretamente, a existência dos fantasmas.
Composição
Consiste em atribuir características próprias de um elemento ao todo que se integra.
Exemplo: João joga muito bem futebol e assim seu time ganhará sempre.
O fato de João jogar bem, não significa que toda sua equipe também fará o mesmo.
Divisão
Ao contrário da composição, consiste em dar características do todo apenas um elemento.
Exemplo: O Barcelona é o melhor time do mundo e João será um ótimo jogador ali.
Neste caso, não basta que o Barcelona seja uma ótima equipe para fazer um indivíduo ser um bom atleta ali. Muitas vezes é exatamente o contrário.
É muito importante que possamos identificar as falácias nos mais variados discursos, orais ou textuais. E saber que nem sempre as pessoas ou organizações vão expressar verdadeiramente suas intenções e interesses, ficando o conhecimento e a verdade comprometidos. E nesse cenário, o debate e a séria argumentação são muito necessários e fundamentais.
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