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21/5/2020
Por: Professor Fernando Pina

O contexto filosófico grego depois de Platão e Aristóteles: O helenismo - epicurismo, estoicismo, ceticismo e neoplatonismo

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A história da filosofia é dividida em períodos. O período da Filosofia Antiga é dividido da seguinte maneira: pré-socrático ou cosmológico, socrático ou antropológico, sistemático, helenístico ou greco-romano.

Nessa postagem, vamos tratar especificamente do período helenístico, que se configura basicamente como a expansão do pensamento grego para todos os cantos seja do Império Macedônico, seja do Império Romano logo após. Os gregos chamavam a Grécia de Hélade e a si mesmos de helenos, daí a origem do nome do período em questão.

A filosofia é endentida como aspiração ao conhecimento racional, lógico, demonstrativo e sistemático da realidade natural e humana; da origem e das causas da ordem do mundo e de suas transformações; da origem das causas humanas e do próprio pensamento. A filosofia grega até então se distanciava da concretude das relações humanas sendo muito mais metafísica e abstrata. As questões da existência, que haviam ocupado os dias de Sócrates, Platão e Aristóteles, deixaram de fazer sentido em um mundo incessantemente sacolejado pelas guerras e destruição que marcaram o Mar Egeu nos séculos que se seguiram à morte de Alexandre. Portanto, as correntes filosóficas que se seguiram procuraram ter um "pé mais no chão". De fato, buscavam entender a realidade como um todo articulado e entrelaçado formado pelas coisas da natureza, os seres humanos e as relações entre estes, constituindo um sistema composto de física, teoria do conhecimento e ética.

As principais correntes de pensamento do período helenístico são: o epicurismo, o estoicismo, o ceticismo e o neoplatonismo.

Um dos principais temas envolvidos nas discussões dessas correntes de pensamento é a felicidade, ou seja, a busca pelo sentido da vida. Tema que envolve religião, ética e política. A filosofia torna-se então conforto e orientação moral; é um convite à renúncia do mundo da ação política, das ocupações vazias. A filosofia torna-se uma tentativa de responder às angústias do indivíduo, em proporcionar à pessoa orientações para a sua salvação interior, para a busca da paz, da ataraxia,ou seja, da ausência de perturbações.

O Epicurismo

O filósofo que dá origem a essa corrente de pensamento é Epicuro de Samos (341-270 a.C.). Diante de um contexto cosmopolita, de grandes conflitos e de um marcante individualismo, dizia que as ideias de Platão e de Aristóteles não se adaptavam aos novos tempos. 

Em Atenas, o filósofo comprou uma casa com um quintal. Lá, em meio a árvores e flores, começou a dar aulas de filosofia, nas quais pregava a busca pela felicidade e o controle das emoções. Na verdade, Epicuro se autoproclamava um terapeuta do espírito, um médico das almas e um cirurgião das paixões. Em Epicuro, encontramos uma ética voltada para a busca do prazer. No entanto, esse prazer não é hedonista, isto é, do prazer pelo prazer, mas como ausência de dor e de inquietação, a aponia e a ataraxia. Para o filósofo, o homem deve encarar a vida à medida que procura a felicidade. Para ser feliz, o homem precisa de três coisas: liberdade, amizade e tempo para meditar. 

Nem sempre a vida nos tras bons presentes, então, melhor consolar-se recordando bons momentos, ou imaginando dias melhores, ou buscando dar sentido aos mínimos detalhes da nossa existência, como por exemplo, saboreando uma fruta ou em boas companhias. Até em relação ao maior medo humano, a morte, Epicuro tinha uma resposta. Se ela é o fim de toda e qualquer sensação, não pode trazer dor física ou emocional. Logo, não há nada a temer. “A morte não é nada para nós”, sentenciou o mestre. Ao superarmos o medo de morrer, podemos, enfim, ser felizes. Concomitante a superação ao medo da morte, estava a superação em relação aos deuses, para o filósofo, os deuses e também os demônios são inofencivos, ou seja, não têm poder nenhum sobre a existência humana.

O Estoicismo

O estoicismo foi fundado a partir das ideias de Zenão de Cício (336-263 a.C.). Para os estoicos, toda realidade existente é uma realidade racional. Com isso, Zenão acreditava que o Universo era uma sucessão de eventos cíclicos e idênticos: o que já aconteceu voltará a acontecer e assim por diante. Então, é inútil se preocupar com o futuro: tudo o que acontecer já estava determinado por uma espécie de sopro vital, a “razão universal”, uma espécie de divindade. Mas, se não podemos interferir no curso dos eventos, o que nos resta? Podemos mudar a forma como enxergamos o mundo, a nossa mente e aceitar os acontecimentos. Estoico virou sinônimo daquele que se resigna diante dos sofrimentos da vida. Um dos mais famosos conceitos da escola, a ataraxia, significava ausência de inquietação.

Assim, em vez do prazer dos epicuristas, Zenão propõe o dever, vinculado à compreensão da ordem cósmica, como o melhor caminho para a felicidade. É feliz aquele que vive segundo sua própria natureza, a qual, po sua vez, integra a natureza di universo.

A ética estoica está baseada em uma austeridade física e moral, cujas principais virtudes são a resistência ante o sofrimento, a coragem ante o perigo e a indiferença ante as riquezas materiais. O ideal perseguido era um estado de plena serenidade(ataraxia) para lidar com os sobressaltos da existência.

Apesar de distintas, as duas escolas (epicurismo e estoicismo) tinham uma ética comum: ambas acreditavam que a filosofia era um modo de vida. Epicuro e Zenão defenderam princípios avançados para a época, como a igualdade entre os homens. O estoicismo pregava que cada pessoa é a manifestação de um espírito universal único, ensinamento que seria alinhado ao cristianismo que viria logo a seguir.

O Cinismo

A palavra cinismo vem do grego Kynos, que significa "cão". Os cães da cidade são a imagem perfeita de suas ideias, pois propuham viver sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao máximo a máxima socrática: conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais.

Diógenes de Sínope (413-327 a.C.) é o pensador mais destacado dessa escola.

Pirronismo é uma outra corrente de pensamento, porém é associada ao ceticismo. Pirro de Élida (365-275 a.C.) é o principal pensador dessa escola. O pirronismo defendia a ideia de que tudo é incerto, nenhum conhecimento é seguro e, portanto, qualquer argumento pode ser contestado.

Os adeptos do perronismo propunham que as pessoas adotassem a suspensão do juízo (epokné, em grego), isto é, a abstenção de fazer qualquer julgamento, já que a busca de uma verdade plena é inútil.

Tanto o ceticismo quanto o perronismo professavam a impossibilidade do conhecimento, ou seja, da obtenção da verdade absoluta.

O neoplatonismo

O neoplatonismo surgiu no século III realizando uma síntese entre a filosofia de Platão e certos elementos místicos, como a metafísica hindu. Propunha como realidade suprema o Uno, do qual emanariam todas as outras realidades, sendo a primeira delas o logos.

O principal expoente dessa corrente de pensamento foi Plotino (205-270). 

o Neoplatonismo não retoma o Platonismo, pois evita o dualismo de Platão em favor de um princípio único para todas as coisas. Por outro lado, é interessante notar que nessa vertente, os aspectos cosmológicos e espirituais do platonismo são mais valorizados.

Deus (Uno) irradia a luz de toda a criação da qual todas as formas naturais são um reflexo. Por sua vez, os seres da criação, imperfeitos, estão hierarquizados conforme se afastam da origem, mas possuem em si a essência do Uno.

O neoplatonismo é mais teleologia do que filosofia, pois coloca Deus como sendo inefável, indefinível e, portanto, podemos apenas definir o “Uno” pelo que ele não é (teologia negativa). A despeito disso, esta concepção não acredita na existência do mal, pois este seria a carência do bem.

Essa corrente de pensamento possui três estágios ou hierarquias: a primeira seria a emanação do Uno, representada pelo Intelecto (Nous, ou Logos) o qual seria a manifestação suprema de Deus, o qual é todas as coisas e nenhuma, fonte incondicional de tudo. Portanto, Logos seria a primeira manifestação de Deus.

Num segundo nível, estaria a “Alma do Mundo”, a qual seria, por sua vez, uma mediação entre a Inteligência e o mundo sensível, o qual, por sua vez, seria uma representação da verdade obscurecida.

Por fim, num estágio inicial, estaria o mundo material, o qual encontra-se mais afastado da luz original e, por isso, permeado pelas vontades da carne e pelo peso da matéria. Apesar disso, este é o estágio de que partimos para nos elevarmos até o "Princípio Original".

Esse monismo idealista dos neoplatônicos influenciarão tanto as religiões pagãs quanto as monoteístas, sobretudo o Cristianismo.

 

Fontes:

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3ed. São Paulo: Ática, 2016

COTRIM,Gilberto. Fundamentos de Filosofia. 4ed. São Paulo: Saraiva, 2016

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. 2ed. Belo Horizonte: PAX, 2014

VASCONCELOS, José Antonio. Reflexões: filosofia e cotidiano. 1ª ed. São Paulo: Edições SM, 2016

 

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