15/5/2020
Através da memória e da História o ser humano tem acesso ao seu passado e com isso pode estabelecer uma relação com o tempo. A possibilidade da percepção do tempo se dá graças à consciência humana que possibilita a cada um ter a experiência da existência. O ser humano é um ser que se constrói, que se faz, e que por isso é um ser de cultura, pois molda o seu meio transformando-o constantemente.
O livro didático "Reflexões: filosofia e cotidiano" de José Antônio Vasconcelos trás o tema Memória e História no terceiro capítulo da obra. O foco do tema está no eixo Cultura e Natureza, pois trata da dinâmica humana frente sua construção mediante o conhecimento, a política, os meios sociais, as ciências e o desenvolvimento de novas tecnologias.
Esse assunto pode ser trabalhado com turmas do segundo ou do terceiro ano do Ensino Médio, de acordo com o planejamento de cada professor.
A principal competência a ser desenvolvida com esse estudo é de compreender os elementos culturais que constituem as identidades. Por isso Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas é tão importante.
Nossa relação com o passado
Tanto a memória quanto a história permitem ao ser humano sua relação com o passado. A diferença está em que a memória é íntima, particular, subjetiva e viva. Já a História é a parte da ciência que estuda o passado do ser humano, por isso ela se estabelece através de estudos rigorosos embasados por metodologias científicas que asseguram uma proximidade ao máximo com a verdade sobre determinados acontecimentos ou fatos sobre o passado humano.
Interessante fazer o seguinte exercício: lembrar-se de acontecimentos, fatos ou momentos que se recorda. Assim, cada um de nós, pode se perceber no tempo fazendo com que o passado seja trazido à memória. Também vale a seguinte reflexão: imagina se alguém perde a memória e não consegue mais se lembrar de seu passado? Há uma doença que acomete muitas pessoas desse mal, é o mal de Alzheimer. Essa doença deixa o paciente totalmente dependente, pois ele perde a noção de tudo, chegando ao ponto de se esquecer até mesmo de quem ele é, de seu nome, de seus familiares.
A memória estabelece a identidade de cada um de forma individual e coletiva, isso porque ela não é apenas um conjunto de informações a respeito de nossas vivências, mas é também uma totalidade de sentido. É pelo fato de saber o que vivenciei no passado que sou capaz de saber quem sou no presente e, portanto, orientar minha ação no futuro. Assim temos a relação entre memória e passado e sua importância para cada ser humano e grupos sociais.
Basicamente a memória se divide em memória individual e memória coletiva.
A memória individual diz respeito à vivência particular de cada um. Seu contexto, suas experiências de vida, sua formação social e cultural, seus costumes e práticas. Sentimentos e emoções fazem parte da construção da memória. Temos um passado, projetamos um futuro, mas vivemos no presente.
Os gregos reverenciavam uma divindade chamada Mnemosine, que, com Zeus, teve nove filhas, as musas. Essas divindades inspiravam artistas, poetas, filósofos a produzirem a partir de lembranças.
Para o grego Platão, a memória é acessada pelas sensações e pela atividade racional. Para o filósofo a busca pelo conhecimento é uma espécie de recordação, pois todo o conhecimento a alma humana já possui, porém, ao se encarnar houve um esquecimento que agora pode ser recordado através da atividade filosófica.
Já para Aristóteles, outro filósofo da Grécia Antiga, a memória se faz pela vivência do dia a dia. A memória forma imagens no intelecto através do contato com os objetos percebidos pelos sentidos, daí a expressão imaginação. A recordação seria então as lembranças dessas imagens. A memória, em Aristóteles, portanto, se refere à percepções passadas.
Nos séculos XIX e XX, com a emergência da Psicologia como ciência, o filósofo Henri Bergson (1859-1941) distinguiu dois tipos de memória: a memória-hábito e a memória pura ou espontânea. A memória-hábito se refere ao corriqueiro, àquilo que fazemos sem mesmo nos darmos conta como: andar, falar, tomar banho, fazer as tarefas do dia a dia e etc. Já a memória pura ou espontânea são aquelas que marcaram ou impactaram nossas vidas de forma muito intensa: um noivado, um falecimento, a primeira vez disso ou daquilo e etc.
A psicologia vai se dedicar à memória individual. No entanto a memória é também coletiva.
Os estudos da memória coletiva tiveram grande impulso a partir das ideias de Émile Durkheim (1858-1917) e de Maurice Halbwachs (1877-1945).
Durkheim, que inaugurou a Sociologia como disciplina acadêmica, argumentava que o social tinha primazia sobre o individual, isto é, o indivíduo é resultado de sua interação com o meio social em que vive. Halbwachs então teve influências tanto de Bergson, quanto de Durkheim.
Para Halbwachs, a memória se dá na relação que o indivíduo mantém com os grupos sociais com os quais interage. A recordação, então, não é apenas o ato de trazer à mente no presente imagens do passado, mas também uma reconstrução socialmente partilhada de experiências vividas pelo grupo. O filósofo repetia a tese de Durkheim: o social sempre tem primazia sobre o individual.
Memória e história lidam com lembranças do passado. No entanto, a memória, segundo Halbwachs, abrange o que ainda é vivo e significativo para determinado grupo social. E a História se ocupa de fatos ou acontecimentos que já podem estar bem distantes ou que já não encontram mais eco no sistema de valores de determinado grupo social. A memória é vivida, a história é ciência.
REFERÊNCIA: VASCONCELOS, José Antonio. Reflexões: filosofia e cotidiano. 1ª ed. São Paulo: Edições SM, 2016.
Inscreva-se e fique por dentro de nossas novidades!