A filosofia moderna começou no Século XVII e se estendeu até meados do Século XVIII. Nesse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, foi preciso enfrentar um ambiente de pessimismo teórico, reinante desde o fim do Século XVI.
Dominava o Ceticismo, a atitude filosófica que duvida da capacidade da razão humana para conhecer a realidade exterior.
Para restaurar o ideal filosófico da possibilidade do conhecimento racional verdadeiro e universal, a filosofia moderna propôs três mudanças teóricas principais:
1- O surgimento do sujeito do conhecimento: a filosofia, em lugar de começar por conhecer a natureza ou Deus, começa indagando qual é a capacidade da razão humana para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, em vez de começar pelas coisas a serem conhecidas, sobre as quais só cabem dúvidas e desconfiança, a filosofia começa pela reflexão.
Por isso, para vencer o ceticismo, a filosofia precisa responder as perguntas: como o intelecto pode conhecer o que é diferente dele? Como o espírito pode conhecer os objetos corporais, o seu próprio corpo e os demais corpos da natureza?
2- A resposta a essas perguntas constituiu a segunda grande mudança teórica, que diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores são conhecidas quando o sujeito do conhecimento as representa intelectualmente, ou seja, quando as apreende como ideias que dependem apenas das operações cognitivas realizadas pelo próprio sujeito.
Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido deve poder ser representado por um conceito ou por uma ideia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, que a natureza, a sociedade e a política podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito do conhecimento, porque são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do sujeito do conhecimento.
3- Essa concepção da realidade como racional e plenamente captável pelas ideias e conceitos preparou a terceira grande mudança teórica moderna. A natureza, a partir de Galileu, "está escrita em caracteres matemáticos, e para lê-los é preciso conhecer matemática."
Essa ideia deu origem a ciência clássica ou moderna, na qual prevalece o ponto de vista da mecânica, isto é, o de que nas relações de causa e efeito entre as coisas a causa é sempre o movimento, e este segue leis universais e necessárias que podem ser explicadas e representadas matematicamente.
A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce assim, a ideia de experimentação científica e desenvolvimento de laboratórios. A expectativa é de que o homem poderá dominar tecnicamente a natureza e a sociedade.
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pela razão, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional.
A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político, bem como mantê-lo racionalmente.
Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descates, Galileu, Pascal, Hobbes, Leibniz, Espinosa, Malembranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi.
Adaptado de CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 2 ed. São Paulo: Ática, 2014, p.54.
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